Assisti atentamente no último domingo a entrevista concedida
por Vanusa ao Fantástico. A cantora, hoje com 64 anos, e que no movimento da Jovem Guarda fez
história ao lançar grandes hits que se transformaram em obras inesquecíveis,
está voltando, após cinco meses internada em uma clínica no interior de São
Paulo, onde passou por um longo tratamento de desintoxicação.
A intérprete de “Pra nunca mais chorar” e “Manhãs de
setembro”, havia saído de cena, depois de ter sido alvo de gozações. Ela estava
sendo lembrada não por sua obra, e sim, por ter protagonizado cenas que, caído
na Internet, a ridicularizaram.
‘Pagou o mico’, como se diz na gíria, ao
esquecer a letra do Hino Nacional em sessão da Assembléia Legislativa de São
Paulo em 2009 e de, no ano passado, misturar letras em outra apresentação. Nas redes sociais, foi o alvo. Todos riram.
Aliás, eu também.
Ela contou, de cara limpa, em rede nacional, que tomava
muitos remédios, de todos os tipos. Estava doente. Viciado nos medicamentos de
tarja preta, e mais, desenvolveu uma compulsão por eles.
Além disso, passou a consumir bebidas alcoólicas. Por que?
"Quando eu chegava nos lugares e via as pessoas felizes, eu queria aquela
felicidade para mim. Eu bebia, e por pouco que eu tomasse, potencializava todos
aqueles remédios. Você começa a achar que o mundo te esqueceu, que você não é
digna de estar viva”, declarou. Percebeu então que precisava de ajuda. E
buscou.
E nas redes sociais, na Internet, nos programas de humor na
TV, ela era motivo de ‘chacota’ e o povo, todos nós, ríamos de sua ‘desgraça’,
sem conhecer sua verdade.
"Minha vontade
era sumir, desaparecer”, disse ela.
Bom, por que falo dela, e deste tema na coluna desta semana?
Pelo fato de que, ao entrar na ‘onda’ e achar graça do
feito, esqueci – assim como todos, do ser humano na outra ponta. Rimos todos,
satirizamos, sem saber o que de fato estava ocorrendo.
Assistindo-a. Ouvindo-a atentamente, fiquei a refletir: como
podemos nós agir assim? Como somos capazes de rir da ‘desgraça’ alheia? Por que
julgamos os outros – e os condenamos – sem sequer dar-lhes o direito da defesa,
da apresentação dos argumentos, das explicações?
Rimos do outro e esquecemos dos sentimentos. Sim, porque na
verdade, se vemos na rua um idoso cair e a cena for – digamos – espetacular,
não olhamos para a dor que ele sente mas sim, enaltecemos o ‘belo tombo’. Tudo
bem, você dirá: eu não sou assim! E nem estou afirmando isso. Mas se olharmos
para nossas ações, nossas atitudes, vamos ver que, volta e meia ‘somos sim,
assim’.
“Não julgueis para não ser julgados”. É bíblico, é do
cristianismo. É regra para o ser humano. Mas quantos de nós esquecemos desta
verdade e passamos a vida a destilar ‘nosso veneno’. Apontamos erros – dos
outros – repreendemos as falhas e atitudes – dos outros – e condenamos seus
deslizes, seus tropeços nesta experiência de Humano Ser. Não percebemos que por
trás de cada erro, cada queda, cada falha – independente do seu tamanho – houve
a tentativa do acerto, do fazer o melhor, do servir.
Pensemos nisso. Eu estou pensando. Aliás, refletindo ao
ouvir a canção “Palhaço” interpretada por Vanusa. Um sucesso que ela também
errou a letra e que – a letra – ironicamente nos dá seu recado...
Vejam só
Que história boba eu tenho pra contar
Quem é que vai querer acreditar
Eu sou palhaço sem querer
Vejam só
Que coisa incrível o meu coração
Todo pintado nessa solidão
Espera a hora de sonhar
Ah, o mundo sempre foi
Um circo sem igual
Onde todos representam bem ou mal
Onde a farsa de um palhaço é natural....