Na última semana, como tem ocorrido costumeiramente, cumpri compromissos em Porto Alegre junto ao Sindicato dos Radialistas, do qual sou um dos diretores.
Ir à Capital, me faz bem. Não porque retorno à minha cidade natal, mas é pelo fato de gostar do contato com a parte cultural tão presente, por todos os lados da grande metrópole.
Me encanta o povo, no seu ir e vir, correndo – sempre correndo – apressadamente, mas com um sorriso no rosto. Alegre, como se estivesse a enaltecer a vida – independente dos desafios diários – e da distância.
Mas não foi o teatro, o museu, o pôr-do-sol no Guaíba, ou shows – na semana de aniversário de Porto Alegre – que me chamaram a atenção e que serviram de inspiração para este texto. Não quero falar da viagem, mas sim, como sempre me proponho, das coisas que vi.
Praça da Matriz, Palácio Piratini, Assembléia Legislativa, Tribunal de Justiça e Catedral Metropolitana, todos, em seus majestosos espaços arquitetônicos, históricos e – diga-se de passagem, exageradamente ricos. Sim, o centro do Poder gaúcho reúne prédios que, mais do que uma beleza infinita, e valor histórico-cultural incalculável, demonstram de forma pomposa, que ali irmana o Poder e que, para ali estarem abrigados líderes da Justiça, o governador do Estado, os 55 deputados eleitos pelo povo e o líder maior da Igreja no RS, foram necessários fartos recursos...do povo.
Ali na Praça sentei para descansar, apreciar a paisagem. Ali fiquei a refletir. E eis que uma cena me chama a atenção.
Em frente à igreja, sim aquele majestoso espaço para oração dos católicos, bem ali, onde o cristão busca alimentar sua fé, uma senhora sentada ao chão da calçada fria, pedia esmola.
Como cristão que sou, e naquele tarde, como turista que estava, entrei para rever o templo, aberto à visitação, e ter meus minutos de intimidade com o Deus que acredito.
Mas a cena não saia da cabeça. Em frente à igreja, situada no centro do Poder, uma mulher, um ser humano, pobre, com olhar sofrido, pedia esmola.
Não me concentrava, não dava. Talvez fosse ‘fita’. De repente, o olhar indiferente dos que por ali passavam era natural por saberem que golpes são diários, e ali poderia estar mais um.
Rezei, agradeci, pedi por mim, por nós, por todos, e por ela. Mais do que isso, ao sair, lhe alcancei moedas. Não ouvi sua voz, não vi um sorriso em seu rosto. Aliás, não vi seus olhos, pois ela, mergulhada na miséria humana em que se encontrava, parecia ter vergonha da situação.
Ainda não esqueci do ocorrido, mesmo tendo visto, em diversos locais da Capital, homens dormindo em calçadas, maltrapilhos, tendo a rua como seu mundo, seu lar, ela era a cena mais forte. Doeu. E ainda dói.
Mas meus caros amigos, o fato serve de reflexão. Vem como metáfora. Não tenho a resposta. Minha intenção não é dar resposta. Mas fica a pergunta: Por que, no centro do Poder, uma mulher na calçada pedia esmola em frente á igreja? Por que não estava ela, nos portões da Assembléia Legislativa, onde poderia de repente encontrar um deputado, talvez, quem ela ajudou a eleger e que deveria estar criando leis a seu favor?
Por que aquela senhora não estava na porta do Palácio, e talvez ali se encontrasse com o próprio governador, responsável por políticas públicas a seu favor?
Ou então, por que não se abrigara na porta TJ/RS, onde poderia se deparar, e de repente até ser atendida por um magistrado, responsável por fazer justiça, quem sabe, sua própria?
Pó que na igreja? Continuo a pensar no assunto. E a imaginar quais seriam as respostas.
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“Tá vendo aquele edifício moço
Ajudei a levantar.
Foi um tempo de aflição
Era quatro condução
Duas pra ir, duas pra voltar.
Hoje depois dele pronto
Olho pra cima e fico tonto
Mas me chega um cidadão
E me diz desconfiado
Tu tá ai admirado?
Ou tá querendo roubar?!...(Cidadão – Zé Geraldo)
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