No último sábado dediquei algumas horas do meu dia de folga para dar força a um grande amigo, que acabara de perder sua mãe. Velório é fogo, não é verdade? Muita tristeza presente, saudade doída....
Não tenho jeito.
Não estamos preparados para a morte, para a perda.
Bom, entre os mais fortes no meio a tantas lágrimas, estava ele, meu amigo, que transmitia uma imagem de tranquilidade, sobriedade. Falou-me ele que era assim que estava se sentindo.
Dizer o que nesta hora? Pus-me a ouvir suas palavras.
Em sua narrativa, a certeza de que não estamos preparados para despedidas, mesmo que o ente-querido esteja a dar seus últimos sinais de vida no leito de uma UTI. Sempre achamos que não será agora, que vai passar, que o diagnóstico do médico está errado e, então permanecemos à espera de um milagre.
Mas algo foi diferente naqueles últimos 12 dias em que a família se dividiu entre trabalho, lar e hospital. Relatou-me a experiência vivida. Aliás, uma experiência que vai ficar para todo o sempre.
Disse ele que nas horas derradeiras, com a mãe consciente, aproveitou cada segundo que esteve ao seu lado. Disse-lhe coisas que não havia dito até então. Demonstrou carinho, afeto e cuidados especiais, a exemplo do que – talvez ela, em seu papel de mãe, por muitas oportunidades havia feito no passado. E foi bom demais. Para os dois.
- Claudio, mimei demais minha mãe nestes últimos dias, enquanto ela estava consciente - disse-me ele com um olhar de felicidade, relatando que haviam falado um para o outro coisas que nunca disseram. Tudo por falta de coragem, oportunidade? A pergunta fica no ar caro leitor.
Por que tem que ser assim? Por que desperdiçamos parte de nossa vida e de nossa história e perdemos lindas oportunidades? Por que, nesta busca do ter, que nos rouba a paz e o sossego muitas vezes, esquecemos do ser?
Em seu livro “Carta entre amigos”, do padre Fábio de Melo e Gabriel Chalita, o sacerdote narra em determinado capítulo a conversa que teve com uma jovem senhora, que contou com tristeza a notícia de que seu pai estava no leito de morte, restando pouco tempo de vida. Fábio de Melo ficou surpreso quando ela disse que naquele dia havia saído de casa após trinta dias fechada em seu apartamento, na mais profunda depressão. Lugar este, que pretendera voltar. Motivo: a vida perdera o sentido desde que seu pai fora acometido de uma doença terminal. Ele teria apenas três meses de vida.
O padre se surpreendeu. - Seu pai está no leito do hospital e, ao receber a notícia, você prefere se trancar num quarto sozinha esperando a morte chegar? Já se passaram 30 dias e você perdeu um mês desta bela oportunidade de permanecer ao lado dele, segurando em sua mão e dizer o quanto a ama e é importante para você. Trata-se de uma oportunidade para crescer, aprender, corrigir. Faça valer esta oportunidade que recebe do Criador.
No livro, o sacerdote encerra dizendo não saber do final desta história.
A do meu amigo eu sei. Ele foi grande, e fez valer a oportunidade recebida. Aprendamos pois, a lição.
Para refletir: entrevista de Reinaldo Gianecchini ao Fantástico:
Para refletir: entrevista de Reinaldo Gianecchini ao Fantástico:
Temos as pessoas todos os dias ao nosso lado, mas só relatamos a sua importância quando estamos prestes a perde-las. Porque não dizer todo dia um "te amo", ou outras palavras de carinho?
ResponderExcluirGostei do tema.