Sim, eu tenho medo. Não do escuro, ou do bicho papão. Não de assombração, de cara feia, do inimigo, ou do bandido. Tenho medo da morte. Sim meu caro. Há de se ter coragem para afirmar isso. E sou corajoso o suficiente para afirmar que tenho medo.
Culturalmente não fomos preparados para enfrentar a morte. Para lidar com as perdas, e, dia a dia, nos despedimos, mesmo sem querer – ou aceitar – de pessoas que são para nós especiais. A cada um é chegada sua hora, não importando a hora. E dizemos adeus, permanecendo com a dor, a lembrança, a saudade. Temos medo de perder quem amamos. Sim, de fato. Mas e a gente? E sobre a nossa hora? Eu confesso, não estou preparado.
Tema ‘sinistro’, não? Não!
As religiões – e eu sou católico convicto – nos ensinam, cada uma a sua maneira, dentro de sua doutrina, que devemos estar preparados, sempre. Mas e daí? Eu tenho medo.
E que medo é este? De deixar repentinamente os que me amam e os que amo. De partir sem dizer o último adeus, sem uma despedida triunfal, sem falar o quanto foram formidáveis estarem em minha companhia.
Este é o meu medo. Apagar as luzes sem que eu tenha contemplado a última cena. Sem que eu possa dizer que o espetáculo foi maravilhoso.
Tenho pensado nisso. Não no adeus ou da hora marcada. É que tem me servido para reflexão. Aliás, é no cotidiano da vida que devemos refletir, a fim de compreendermos sobre nossa presença neste mundo.
Tudo bem, dirão que o medo de morrer nos mata por antecipação. Mas o tema serve como análise da vida.
Sim, se tenho, caro leitor, o medo da morte, preciso saber viver, até porque não sei qual é minha hora.
Então, devo olhar para minha caminhada como ser humano e meu comportamento diante da vida e desta forma, me policiar, me corrigir.
Devo errar menos, e aprender com os desacertos. E nesta correção ser melhor a cada instante, e assim, viver mais. Que estranho, não? Para superar meu medo da morte, devo viver melhor.
E até a hora derradeira, amar mais – com provas concretas – aos que me cercam, aos que me amam. Provar a todo o instante o quanto sou feliz por tê-los ao meu lado. E assim, provar a toda hora o quando tem sido válido chegar até aqui. O quanto tem sido especial os dias de sol – mesmo diante de momentos nebulosos. Então, intensamente viver.
Conheço muitos que morreram sem que tivessem realizado sonhos. Focaram os projetos, juntaram riquezas, viveram de menos, amaram de menos, buscaram de mais. E nesta busca, se perderam no caminho. E, sem a oportunidade de mais uma chance, partiram.
O mapa do tesouro na mão fora mais importante do que as pessoas ao seu lado. Não souberam reconhecer o ouro que possuíam.
Pois bem, o medo? Ah, ele vai permanecer comigo. Mas vou vivendo – e bem, a cada minuto (pensando – e agindo – onde posso melhorar).
“Eu aprendi a ter, tudo o que sempre quis
Só não aprendi a perder.
E eu que tive um começo feliz, do resto não sei dizer” – Renato Russo
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